A grávida e o resto do mundo
A
grávida não é mais um . A grávida é dois, dois em um. E vale por dois,
por dois come. Quando anda na rua, o dois some. O que importa é o
barrigão. Todo mundo olha e sorri. Uma vez , no auge da minha barriga,
um dia pela manhã, uma senhora disse que ver uma grávida logo assim que
se sai de casa é sinal de boa sorte. Sorte pra quem, pra ela ou pra
grávida? Não importa.
A grávida escuta de tudo, que a barriga está grande, que está pequena. Que não engordou, que está imensa. Que é menino, que é menina. Deseja-se sorte e boa hora. A grávida não é mais si e de si perde-se temporariamente. A grávida é o arauto do alguém que vai chegar e, quem sabe, mudar o mundo. O pequeno que virá sem saber que o buraco é fundo, que a dor é imensa que a batalha é inglória.
No
ônibus todo mundo levanta. Quer dizer quase todo mundo. Os velhos,
levantam sempre, mesmo que a grávida jure que está muito bem. Velho
sabe o que é ser grávida, seja porque já foi uma , seja porque já foi
pai. Parece que a barriga imensa traz boas recordações, pois na hora em
que a grávida aceita o lugar recebe uma piscadela do gentil ancião.
Não
fosse o peso que carrega, poderíamos dizer que a grávida se diverte ao
mesmo tempo em que oferece diversão. Mas o que a grávida não sabe, ao
menos aquela que carrega o primeiro barrigão, é que quando a barriga
migrar, for embora, murchar, tudo o que ouviu sozinha com o filho nos
braços ouvirá. Que ele é pequeno, que é grande demais, que é esperto,
sorridente, sério, feliz, bravo, bonito, travesso, educado, chorão.
Não, eles nunca concordarão. É que o povo que passa fala de si, vê-se
no outro e repete o que o tem no espelho em visão.
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