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Arthur e Miguel

Arthur e Miguel

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A grávida e o resto do mundo





A grávida não é mais um . A grávida é dois, dois em um. E vale por dois, por dois come. Quando anda na rua, o dois some. O que importa é o barrigão. Todo mundo olha e sorri. Uma vez , no auge da minha barriga, um dia pela manhã, uma senhora disse que ver uma grávida logo assim que se sai de casa é sinal de boa sorte. Sorte pra quem, pra ela ou pra grávida? Não importa.

A grávida escuta de tudo, que a barriga está grande, que está pequena. Que não engordou, que está imensa. Que é menino, que é menina. Deseja-se sorte e boa hora. A grávida não é mais si e de si perde-se temporariamente. A grávida é o arauto do alguém que vai chegar e, quem sabe, mudar o mundo. O pequeno que virá sem saber que o buraco é fundo, que a dor é imensa que a batalha é inglória.

No ônibus todo mundo levanta. Quer dizer quase todo mundo. Os velhos, levantam sempre, mesmo que a grávida jure que está muito bem. Velho sabe o que é ser grávida, seja porque já foi uma , seja porque já foi pai. Parece que a barriga imensa traz boas recordações, pois na hora em que a grávida aceita o lugar recebe uma piscadela do gentil ancião.

Não fosse o peso que carrega, poderíamos dizer que a grávida se diverte ao mesmo tempo em que oferece diversão. Mas o que a grávida não sabe, ao menos aquela que carrega o primeiro barrigão, é que quando a barriga migrar, for embora, murchar, tudo o que ouviu sozinha com o filho nos braços ouvirá. Que ele é pequeno, que é grande demais, que é esperto, sorridente, sério, feliz, bravo, bonito, travesso, educado, chorão. Não, eles nunca concordarão. É que o povo que passa fala de si, vê-se no outro e repete o que o tem no espelho em visão.

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